quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Veja a primeira imagem e os detalhes do projeto autoral de Mike Deodato




Ele é o desenhista brasileiro mais bem sucedido nos Estados Unidos. Tem contrato de exclusividade com a Marvel e atualmente desenha Os Vingadores Sombrios, uma das revistas mais vendidas do mercado americano. Mas Mike Deodato está começando a se dedicar a um projeto pessoal que define como seu Kick-Ass: a reformulação completa do super-herói Flama, criado por seu pai – Deodato Taumaturgo Borges -, em 1961, que ganha contornos realistas, violentos e complexos em uma releitura moderna que está sendo definida pelos autores como o “cruzamento entre Rising Stars e Tropa de Elite”.


Apesar do projeto ainda estar em processo de germinação, o artista nos enviou, em primeiríssima mão, uma arte conceitual exclusiva (ao lado e completa abaixo) do protagonista da série. "Estou fazendo o Flama nas horas vagas, que basicamente não tenho”, brinca Deodato. “Então ainda vai demorar para ser publicada. Mas é um projeto especial para mim, porque foi meu pai que criou o personagem original que inspirou a nova trama." A princípio, O Flama será mostrado para a Marvel, que tem a preferência no caso de um projeto de autor do brasileiro. “Tenho direito a um título de autor no contrato e sempre procurei algo grandioso e diferente para fazer. Acho que a ideia pode ser um passo importante nos quadrinhos no Brasil.”

O personagem - possivelmente o primeiro super-herói do nordeste brasileiro - será totalmente remodelado. Quem cuida do roteiro é o jornalista Rodrigo Salem. "O Deodato descobriu esses dias um episódio original da novela radiofônica do Flama e sugeri de fazer um reboot do personagem e ele topou”, conta o roteirista. “Deodato me respondeu em seguida dizendo: ´Pelo Flama, eu trabalho até de madrugada.´ Foi aí que vi que ele estava mesmo a fim". A partir daí, Salem escreveu um argumento grandioso, que envolve caça a heróis nos anos de chumbo da ditadura brasileira, ação desenfreada e como a política brasileira de hoje reagiria diante da presença de um vigilante poderoso nas ruas. Originalmente, nos anos 60, o Flama não tinha superpoderes conhecidos e usava um uniforme com capa, máscara e colante amarelo. Tudo isso cai fora. Ou quase isso. "A história será nos dias atuais e será sobre o filho do Flama original e sua relação com o pai, que morre logo nas primeiras páginas. Vou usar a mitologia criada e considerar que o personagem teria mesmo existido nos anos 60, mas, por alguma razão, ninguém lembra da sua existência."

Pela nova versão, o filho do herói, já com trinta e poucos anos, nunca soube que seu pai foi um vigilante uniformizado e foi educado para ser um perdedor, para nunca ser o melhor em nada que fizesse. “Como Clark Kent seria educado caso seu pai fosse responsável pela morte da mãe? Tentamos responder isso no começo do arco”, revela Rodrigo. A partir de um certo ponto, o jovem descobre que seu pai foi um super-herói e passa a crer que possui algum tipo de herança poderosa e vai quebrar a cara várias vezes, justamente porque não tem um guia, alguém que o auxilie. Até porque a única pessoa que poderia fazer isso é seu pai, e ele estará morto. “Você passa 30 anos vivendo como um saco de pancadas no trabalho e em casa e, de repente, acha que seus poderes aparecerão em alguma situação de perigo extremo, como numa história normal dos X-Men. Mas... E se eles não aparecerem?”, diverte-se o escritor.

Com a volta do Flama, a intenção da dupla é fazer algo na linha de Kick-Ass e Miracleman, bem pop e até com um olho no cinema. "Quadrinhos no Brasil é feito por gente que não sabe fazer quadrinhos. Ou é cabeça ou é ridículo demais. HQ comercial, realista e com diálogos de verdade, que dê filme, ninguém sabe fazer. O Flama será bem pop, muito violento e que pode ser lido por um moleque em San Diego ou Recife", crava Salem deixando claro que não veremos nada de capoeira, Amazônia ou bumba-meu-boi (ainda bem, aliás). "Pode parecer ambicioso, mas é isso o que falta nos gibis daqui. Tem que fazer quadrinhos sem precisar ser exótico, sem ter o toque de brasilidade. Isso mata qualquer vontade de ler HQs brasileira". O roteiro do primeiro arco está pronto e deve sair em seis edições apresentando todo o novo universo do herói. "Já temos a ideia pronta do que será o segundo arco e até mesmo da trilogia, mas vamos com calma, porque Deodato está no auge nos Estados Unidos e é extremamente dedicado à Marvel", revela o jornalista.

Publicado em O Capacitor.

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