Os quatro melhores times do mundo estão escolhidos.
Holanda, Uruguai, Alemanha e Espanha.
Da sonhada semifinal “Copa América” estamos vislumbrando uma final “Eurocopa”. É a velha marra sulamericana perdendo espaço para um futebol europeu que, convenhamos, está cada vez mais sulamericano. A tática européia parece clara: mandar os técnicos antiquados, amantes de futebol pragmático, para a África e para a Ásia. É a tática de demolição colonizadora de Pizarro e Cabral, é a evangelização dos índios para que a conquista seja mais fácil. Hoje, Alemanha, Espanha e Holanda são mais africanos e sulamericanos do que Gana, Argentina e Brasil. Tocam bola, não são violentos, sabem catimbar e fazer cera.
Quem diria…
Numa comparação ainda mais insana, podemos fazer uma metáfora cinematográfica desta Copa da África do Sul. O Brasil é um filme de Oliver Stone. Tem uma equipe técnica impecável e um técnico teimoso e de teorias contraditórias e uma cabeça instável. Assim como Dunga, Stone vive de glórias do passado (Platoon), toma decisões polêmicas de trabalho (Ao Sul da Fronteira) e confia mais nos amigos do que na arte (sua volta a terreno conhecido em Wall Street 2). Stone perde a cabeça facilmente, age de forma autoritária nas filmagens e, na oportunidade de dar a volta por cima em seu projeto mais ambicioso (Alexandre), confiou demais em um ator que, todos sabiam, não daria conta do recado. Colin Farrell aprendeu a lição. Será que Felipe Melo fará o mesmo? Dunga, contudo, tem uma grande desvantagem em relação a Oliver Stone. O cineasta nunca esquece o passado, faz questão de registrá-lo (Nixon, JFK, Nascido em 4 de Julho) para que pessoas como Dunga não precisem voltar no tempo para poder ser contra a escravidão, ditadura…
Oliver Stone, ou Dunga, levou um baile da Holanda, que joga sempre como um filme de Paul Verhoeven, nascido em Amsterdã, mas de fama mundial. A Laranja sempre chega na temporada como uma das favoritas, é lembrada pelo carrossel holandês – que mudou a forma do planeta ver futebol –, apresenta um bom futebol durante a Copa, mas nunca é campeã. Verhoeven é a mesma coisa. Revolucionou o cinema de aventura e tem clássicos do cinema pop, como RoboCop, O Vingador do Futuro e Instinto Selvagem, mas nunca foi agraciado com o Oscar. Mora no coração de todo cinéfilo, que ainda espera a repetição de um passado.
Já o duelo de Argentina e Alemanha foi como o encontro de Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino. Os dois diretores são chapas, mas suas obras brigam umas com as outras e sempre fica difícil escolher a melhor. Em um dia feliz, PTA pode mandar um Magnólia, que destruiria fácil um filme como À Prova de Morte. Em um dia feliz para a torcida, ela poderia testemunhar um embate entre Boogie Nights e Pulp Fiction. Seria um empate de oito gols. O que aconteceu hoje, no entanto, foi a briga de Embriagado de Amor versus Bastardos Inglórios. A Argentina vinha de um grande momento contra o México, assim como PTA vinha de sua obra-prima, Magnólia antes de se aventurar neste drama; os hermanos traziam um técnico gente boa, genioso e genial e considerado divino, mais ou menos como os cinéfilos tratam Paul Thomas Anderson; e teve o astro mais valioso do mundo (Messi) solto para fazer o que quiser, mas que ficou preso em uma trama confusa e desequilibrada, a exemplo de Adam Sandler, que carregava nas costas o peso de ser campeão das comédias e arriscou tudo em seu primeiro papel dramático.
Os Bastardos Inglórios da Alemanha, por sua vez, seguiram um comandante obsessivo e estudioso, que não se repetiu ao escalar um elenco rico e cheio de caras novas (Christoph Waltz, Mélanie Laurent), liderado por um veterano famoso (Brad Pitt). Alguma semelhança com Özil e Thomas Müller sendo levados por Miroslav Klose pelos campos da áfrica do Sul, arrancando escalpos dos inimigos sem perdão? Como diria o Coronel Landa: “That’s a bingo!”
E a classificação do Uruguai? Existiu algum momento mais cinematográfico na Copa? Nem os dramalhões oitentistas de Hollywood imaginaram um gol salvo pelas mãos de um atacante, que é expulso e vê, de longe, o goleiro defender o pênalti no último segundo do segundo tempo da prorrogação – e garantir a vitória do Uruguai na decisão de penalidades máximas. Suárez, o homem do jogo, a nova – e ética – mão de Deus, é um herói de Michael Bay, o Bruce Willis que se sacrifica para salvar a Terra de um gigantesco meteoro em Armageddon. Mas o time tem mais a ver com um filme de Stallone. É o azarão, o boxeador que estava nas cordas e deu a volta por cima. É Rocky gritando “Adriaaaaan!!!!” e o mundo chorando junto, emocionado, enquanto Apollo, guerreiro de ébano cumprimenta o adversário, enchendo de orgulho sua nação. Gana, fica para a próxima.
O Paraguai era a Pequena Miss Sunshine da Copa, ou A Bruxa de Blair, ou Um Sonho Possível. Aquele filme barato que ninguém vê chegando e vira um sucesso de bilheteria. O problema é que a Espanha foi o Avatar do Paraguai. A seleção hiper-hypada, repleta de inovações táticas e com craques que jogam mais para o time do que para fazer nome – Sam Worthington, na época, valia tanto quanto Xabi Alonso. Alguns descrentes duvidavam da força da Espanha, assim como muita gente falava que Avatar parecia um filme de ficção científica dos anos 80 e não funcionaria.
Assim como no futebol, o cinema pode ser uma caixinha de surpresas.
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