sábado, 22 de agosto de 2009

As impressões sobre o novo filme do diretor de Titanic

Naves humanas invadem o planeta Pandora


Poucos diretores de cinema sabem jogar com o marketing como James Cameron. Mas poucos têm o moral para isso. Quando Zack Snyder chega mostrando dez minutos de Watchmen, ele conta com 300 no currículo. Quando Roland Emmerich vem querendo dar uma palhinha do fim do mundo em O Dia Depois de Amanhã ou 2012, ele tem a porcaria do ID4 nas costas. Dá para contar nos dedos um cineasta que pode pegar um dia da semana para chamá-lo de seu – em termos de revolução cinematográfica e trama narrativa.

Pois foi o que aconteceu ontem, sexta-feira (21). No mundo inteiro, rolou o Avatar Day, evento que adiantava 15 minutos de Avatar, primeiro filme de Cameron desde Titanic em Imax 3D. A antecipação começou de forma estranha com o trailer lançado na quinta-feira na Internet. Estranha, porque o universo concebido pelo diretor simplesmente não funciona tão bem em 2D e, certamente, menos ainda numa telinha de computador.


James Cameron e sua musa, Sigourney Weaver, com quem trabalhou em Aliens - O Resgate e agora traz para Avatar no papel de uma cientista


Mas Cameron sempre visualizou o projeto exclusivamente em 3D. Não estamos falando de um longa normal tentando hypar o lançamento mundial em 18 de dezembro. Quando o cineasta anunciou que voltaria aos cinemas em um filme RODADO em câmeras 3D e ainda utilizando captura de performance, as salas de exibição 3D eram raras no mundo inteiro. No Brasil, a primeira sala 3D digital foi inaugurada em dezembro de 2006. James Cameron decidiu fazer Avatar em janeiro de 2007. Por aí podemos ter uma ideia da maluquice do sujeito.

Nestes três anos trabalhando na Weta, empresa de efeitos de Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), na Nova Zelândia, Cameron viu o formato virar uma febre. Agora, o Festival de Veneza tem premiação para a categoria e o 3D é obrigatório em qualquer multiplex de respeito. Mas Avatar teria perdido o impacto por causa disso?

Depois dos 15 minutos de ontem, podemos afirmar que não. Pela primeira vez no Brasil, um cinema exibiu cenas em 3D com legendas – mas a iniciativa é única, já que a cópia foi feita nos EUA e algo similar é impossível de reproduzir em larga escala no momento. Ok, o filme, o filme.

Escrever que as imagens orquestradas por Cameron são impressionantes e que a imersão no longa é inédita seria bater na tecla do óbvio. Avatar será uma experiência única e revolucionária. Será um daqueles momentos históricos comparáveis ao primeiro filme com, a chegada do technicolor, os efeitos de Guerra nas Estrelas ou a própria criação do atual 3D. Nestes 15 minutos, o cineasta colocou qualquer obra já lançada em 3D no chinelo – até mesmo os rodados em 3D como Viagem ao Centro da Terra e Monstros Vs. Aliens. Os detalhes e as camadas de movimento em 3D são comparáveis ao que Akira apresentou há mais de 20 anos. Se há um movimento no fundo da cena, ele é capturado com a sensação de profundidade necessária, sem maneirismos ou trucagens.


Sam Worthington, em forma humana, na frente de um tanque contendo um futuro "Avatar alienígena"


O melhor momento para mim: quando Sam Worthington (T4), um soldado paraplégico, vira uma criatura alienígena (seu "Avatar") e interagem com os pequenos humanos.

O que me incomodou um pouco: não acho que o universo de Cameron vá colar para o grande público. Obviamente, um longa desses nunca será um fracasso, mas o hipersurrealismo, digamos assim, do mundo fictício Pandora incomoda um pouco. Em determinados momentos, suas florestas e criaturas lembram desenhos saídos das páginas da Heavy Metal. O lado bom é que você compra a ideia facilmente por causa dos efeitos especiais perfeitos.

É engraçado que Distrito 9, filmaço de ficção científica que também utilizou a Weta, seja o oposto do apresentado em Avatar. Enquanto o primeiro é uma espécie de pseudo-documentário com aliens maltrados por humanos em um campo de contenção na África do Sul, o segundo leva humanos para um planeta colorido, habitados por criaturas azuis deviradas de gatos gigantes – Thundercats, alguém?

Faz um tempo que não me deixo levar por trechos de filme. Eles podem enganar e são uma ferramenta de marketing poderosa. Mas o Avatar Day serviu para apresentar uma proposta e não para pedir aprovação. E James Cameron não precisa provar nada a ninguém. Ele apenas deseja que o público embarque em novas tecnologias com a mesma paixão. E com 15 minutos de beleza revolucionária, ele conseguiu. Se será um bom filme, apenas dezembro dirá.

Nenhum comentário: