terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Espírito que anda


Existe uma coisa que odeio na minha profissão: ver pedaços de filmes incompletos.

A moda começou com O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, mas havia uma justificativa (era uma trilogia caríssima, com milhões de fãs desconfiados, considerada infilmável e dirigida, na época, por um diretor sem currículo grandioso). Agora, os estúdios chamam para ver 50 minutos de Hancock com efeitos no papel e cenas que seria cortadas; e trailers para guiar uma entrevista. Os caras fizeram isso até com Controle Absoluto, um longa vagabundo (de ruim e não de barato) que, faltando só duas semanas antes da estréia, teve (ahám) 20 minutos mostrados para termos um gostinho da parada.

Evito o máximo que posso. Mas não podia fazer isso com The Spirit.

Admito que nunca fui grande fã do herói de Will Eisner, mas o tratamento dado à adaptação por Frank Miller estava me parecendo estranha e fui conferir cinco cenas prontas da obra.

E cheguei a conclusão que a coisa realmente não cheira bem. Primeiramente, o visual Sin City não combina. Parece que o Spirit, por baixo da máscara, não é Danny Colt, mas Marv, o fortão interpretado por Mickey Rourke nos cinemas. "A cidade é minha amante" e essas frases de noir não fazem parte da mitologia de Eisner. Por outro lado, entenderia se fosse feito de maneira séria e dark, como forma de atrair os moleques sedentos por sangue. Normal. Ninguém conhece o Spirit para comprar o humor antiquado do gibi.

O problema é que o filme não é tão sério assim. Em determinada cena, Spirit (Gabriel Macht) e Octopus (Samuel L. Jackson) estão brigando num manguezal (acho) e não tem como não pensar em Pernalonga e Looney Tunes nas pancadas. Em outro momento, Octopus está revoltado porque criou um ser pequenininho em forma de pé (?!) e com uma carinha no lugar do tornozelo. Não sei se isso existe nos quadrinhos originais obscuros, porém não funciona no cinema. É meio constrangedor. O melhor de The Spirit, pelo pouco que vi, é Eva Mendes. No papel de uma ladra sensual, a atriz exala seus melhores dotes, se é que vocês me entendem.

Mas acho que vai ser pouco para livrar o estigma de "quadrinho no cinema" do longa de Miller. Sin City pecou muito em se deslumbrar com seu próprio visual, mas ainda havia cinema ali. Agora, The Spirit parece um teatro animado, lindo, porém canastra e exagerado. Não se engane com o clima mega-sombrio que estão passando nos trailers. Vamos ver como tudo fica quando estiver completo, em janeiro.

4 comentários:

Roberto Mello disse...

"Existe uma coisa que odeio na minha profissão: ver pedaços de filmes incompletos."
Faria alguma diferença ver pedaços de filmes completos? rs

pseudo-autor disse...

Finalmente alguém disse algo condizente com o que penso desse futuro Spirit: o clima sin city, definitivamente, não combina com o clássico detetive de Will Eisner. Honestamente, desde que associaram Frank Miller ao projeto fiquei decepcionado. São mentes criativas diferentes, caminhos narrativos distintos. Preferia ver o diretor de 300 ou outro nome de peso encabeçando o projeto. Mas, vá lá... é aguardar e ver o que rola dessa adaptação. Mas, de minha parte, sem expectativas.

Mídia? Cultura? Acesse:
http://robertoqueiroz.wordpress.com

BAEA disse...

Tem razão, Noca, deveria ser... Inacabados.... me expressei mal.

denise disse...

eu tenho medo desse spirit...