quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Relembrar é viver!

Como não está no site da revista, coloco abaixo minha resenha de Batman - O Cavaleiro das Trevas.

Esqueça tudo o que você entende pelo termo "filme de heróis". Batman - O Cavaleiro das Trevas inaugura uma nova era no gênero, ironicamente matando esse mesmo conceito de gênero. O longa de Christopher Nolan tem mascarados, vilões insanos, diversão de sobra e ação de tirar o fôlego. Mas não é um filme de heróis. O Cavaleiro das Trevas seria um filme sobre vilões, sobre o mal, sobre essa linha fina que separa o paladino do pecador. Troque as máscaras por, digamos, capuzes e chapéus e talvez estivéssemos diante de um thriller policial setentista com a crueza pesada de Sérpico e a psicologia de Taxi Driver; os dois somados à técnica brilhante de Fogo contra Fogo e aos culhões de Seven. Não é o tipo de longa que você esperaria ligado a uma produção assim? Problema seu. O nível do jogo agora é outro e todos precisarão correr atrás, seja com garras mutantes, seja com um simbolo de "S" no peito.

A progressão de Batman - O Cavaleiro das Trevas foi anunciada desde o final de Batman Begins. O que ninguém imaginava era o quão longe Nolan iria na reinvenção do Homem Morcego. Ao adicionar o Coringa e Harvey Dent, o diretor tomou a decisão de investigar a natureza da maldade. O primeiro, como ele mesmo se define, é um elemento do caos, alguém que criminosos comuns não conseguem compreender – e, a princípio, nem o Batman. Dent é o oposto: um homem realmente dedicado a ser a ordem de uma cidade suja, alguém incorruptível. No meio dos dois, o cinza, o vigilante que se veste como morcego e ajuda a polícia ao mesmo tempo em que é visto com fora-da-lei pelos mesmos tiras. Essa é a espinha dorsal do longa. Mas suas ramificações são ainda mais complexas.

A começar pela interpretação de Heath Ledger. Mesmo deixando qualquer emoção pela morte do ator de lado, estamos diante de uma das maiores atuações vilanescas da história do cinema – será que a Academia superará o preconceito para premiar uma produção baseada em quadrinhos? O Coringa de Ledger é um fascinante masoquista sem limites ou lógica. Numa das seqüências mais tensas do filme, ele é confrontado pelo Batman, que deseja saber porque o quer assassinar. "Não quero matá-lo", responde o Palhaço. "Porque faria isso? Para voar a matar criminosos de rua e gangsteres? Não, isso é muito chato." Sua missão fica mais clara perto do final do longa, quando pretende provar a teoria de que todo mundo tem um pouco de psicopata em si, bastando apenas "um empurrão". Apesar desse brilhantismo, o Coringa não é a única estrela de O Cavaleiro das Trevas. Aaron Eckhart supera-se e emociona com seu "inocente" e trágico Dent, e Christian Bale compreende de uma vez por todas o que diferencia seu Bruce Wayne/Batman de outros heróis cuja única preocupação é sustentar a tia velha ou conquistar a repórter gatinha.

Cada um desses elementos tem seu tempo para acontecer, mas Nolan não deixa nenhum segundo de vazio roteirístico atrapalhar a experiência profunda que organizou como uma ópera moderna. Enquanto estamos preocupados com um plano do Coringa, já existem mecanismos em movimento preparando o próximo ato. O melhor de tudo, mecanismos muitas vezes surpreendentes. Vão de julgamentos dignos de John Grisham a esquemas de corrupção policial no melhor estilo da máfia italiana de O Poderoso Chefão. O longa é tão complexo e violento que fica difícil achar que o herói chegará ao final ou que mortes não farão parte de seu cotidiano. Acredite, ninguém está seguro em O Cavaleiro das Trevas. Nem mesmo você. Já fez um check-up neste ano?
Nota: 10


Rodrigo Salem

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