quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Chove chuva

Acho que poucas bandas me trazem mais memórias que o Travis. Sei que não é a banda preferida de muita gente, mas, sei lá a razão, ela sempre esbarra em mim.

* Nas minhas primeiras férias com salário no bolso, passei 30 dias (!!!!) em NY. Foi a primeira vez que voltei à cidade desde 1994, quando passei 4 meses durante as férias e greve da faculdade em João Pessoa. Acho que era 1999. Dólar baixinho.
The Man Who, obra-prima do Travis, não deixava o CD player do meu velho Palio branco amassado atrás e com o símbolo do Batman na frente. "Why Does It Always Rain On Me" me lembra as manhãs frias – mas não tanto, entenda – do caminho de Recife para Olinda. "Turn" me recorda o trânsito infernal entre a Madalena e o centro da cidade, as praças e as pontes. Nesta época, tive meus primeiros dias de folga do Diário de Pernambuco. Meio me achando o máximo (nada como a juventude) e meio maluco (nada como a juventude parte 2), fui atrás de amigos que fiz na época da curta passagem em Roosevelt Island, ilhinha simpática ao lado de Manhattan. Me indicaram uma moça no Queens que alugava o quarto do apê dela bem baratinho para quem era "da Igreja". Acho que foi a primeira vez que acreditei em Deus. Mas ela era gente boa, nem era carola e morava com um namorado marroquino que era fanático por futebol.Descobri que o Travis iria fazer um show no Radio City Music Hall, abrindo pro Oasis. Fui atrás da gravadora e descolei um convite. O show foi algo chapante. Nunca tinha visto algo tão poderoso e melódico ao mesmo tempo. O Oasis, que também não é fraco ao vivo, subiu no palco murcho, murcho.

* Nem coloco o pé fora do Radio City e, para minha surpresa, os caras do Travis estavam na porta, agradecendo a todo mundo, apertando a mão dos fãs e conversando com os poucos que conheciam o grupo. Aquilo nunca saiu da minha cabeça, principalmente quando, algumas semanas depois, The Man Who vendeu milhões de cópias e transformou aqueles quatro carinhas em estrelas do rock (?).

Boomp3.com

* Exatamente uma década depois, programei para esticar uma viagem a trabalho em Londres para outros lugares. Meio sem querer, vi que o Travis estava fazendo os primeiros shows do último disco, The Boy With No Name. E que, no dia seguinte após completar minha missão com Harry Potter, eles tocariam em Dublin. Não contei conversa. Ingresso comprado. Hotel reservado ao lado do show. E passagem pela Ryanair (provavelmente mais barata que uma ida de táxi da minha casa para o Credicard Hall). Antes de mais nada, uma bandinha de abertura muito legal. Não lembro o nome. Guinness de barril. E o show. Olha, não sei qual o gênio que não quis trazer a banda para o Brasil quando eles fizeram a turnê pela América do Sul, ano passado, mas que foi uma estupidez sem tamanho, foi. A banda entra pelo meio da galera, sem segurança, sob o som do tema de Rocky e fingindo serem boxeadores. Showzão simples, carismático, emocionante, com todos os hits, as músicas novas se encaixando bem. "Selfish Jean" bem alta e mais pesada ("Se você me vir feliz, por favor olhe para o outro lado").

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* Agora, sem mais nem menos, o Travis está lançando outro disco. Ainda estou esperando pelas memórias que o futuro vai trazer. Mas o conceitual Ode to J. Smith já tem algumas músicas disponíveis pela Internet.

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* Aproveitei e compilei as quatro que já vazaram – além do lado B maravilhoso, "Sarah". O disco, pelo visto, vem mais rocker. "Something Anything" é irmã bastarda de "All I Wanna Do Is Rock". "Song To Self" é a volta de uma linha mais melancólica que o grupo perdeu desde 12 Memories. Ela está um pouco mais baixa que as outras. Mas dá pra aproveitar. See you soon...

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5 comentários:

Roberto Mello disse...

Antes de mais nada, adorei o "Meio se achando o máximo"... Deu pra perceber vc já se transfigurando numa 3ª pessoa. Voilá.
Sobre NY, não poderia deixar de recordar sua f(r)ase "A neve é linda", de uma candura genial.
Quanto ao Travis, não tenho memórias pra compartilhar, por não nunca ter tido momentos (Nick Hornby nunca serei), mas eles sempre me pegaram pelo ouvido também. Fico em dúvida se foi essa primeira banda "gay" da qual gostei (Placebo?), só sei que diferente desses últimos, o Travis deixava uma sensação doce e suave, pena que não compartilhada (acho).
No mais, fico com "invejinha" de vc. Invejinha de meus amigos, que sabem viver conforme a música. Os filmes. Os livros. É isso. Abraxas.

BAEA disse...

Ahahaha... Passei alguns minutos para entender o que vc falou e compreendi. Realmente, foi um lapso feio. Ainda bem que vc sempre está por aqui.

Sabia que vc ia curtir essa do Travis. Nem sei se essa foi a primeira banda "gay" que gostei, afinal, quando andava com a galera do metal, eu colocava Dinosaur Jr pra tocar e MONGA (sim, o apelido do menino) falava que era coisa de viado. ahahaha... Mas o pessoal do Travis é todo certinho. Num é gay. É sensível, como falam as meninas quando ficam a fim de um carinha que desmunheca.

Anyways, tentei não alongar demais o post, porque poderia ter saido mais nostálgico que o texto e o momento pediam.

Shows, para mim, são como livros pra vc. Sempre me deixam memórias diferentes. Como tenho uma péssima memória, tá sendo legal relembrar algumas coisas e coisas que nem eu lembrava. Deixa o Smashing Pumpkins lançar algo que conto de um monte de outras aventuras, inclusive nosso showzão no Olympia. Do melhor disco (pra mim) deles.

abração

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
erikinha disse...

Queequeg, estou me acabando de rir aqui do seu comment! :)

O TraviS me traz algumas lindas memórias: um show inesquecível na Bélgica (2002 - era a turnê do invisible band, salem?), aberta pelo Remy Zero sabe? (aquela banda do somebody saaaaaaaaaaaaaave me, heheheh, do superboy!), num lugar minúsculo, onde simplesmente o cara toca um cover do teenage fanclub e joga o microfone de lado, canta a capella e se garante. Fora que o público belga é massa. Fiquei do lado de uma senhorinha lá que cantava TODAS AS MÚSICAS!!! Uma onda! Foi o meu primeiro show fora do Brasil.

Mas o grande lance foi a argumentação pro cara me vender os ingressos, que estavam sold out, heheheh. Ainda conheci o cara que me vendeu quando cheguei no local, uma figuraça, que me deu milhões de dicas bacanas culturais do lugar.

Acho que foi esse cidadão dono do blog que me apresentou a banda.
E só gosto de banda de gay mesmo, pelo visto! Fazer o que né? Esse pessoal "sensível" é que é cool, hehehe.

Beijo!

BAEA disse...

É... esse seu show na Bélgica deve ter sido inacreditável. Lembrei dele, mas a memória é sua. ehehehe...

Pena que a banda nunca teve postura de rockstar safado, porque só assim pra tocar no Brasil. tsc tsc